Gerenciamento de Risco - O Caso Titanic
- Gilberto Ponsoni Filho
- 6 de nov. de 2021
- 3 min de leitura

No livro “Análise de Risco em Gerência de Projetos”, os autores tomam o naufrágio do Titanic como exemplo dos infortúnios associados à ocorrência de eventos considerados impossíveis ou altamente improváveis, que a história da humanidade está repleta.
O Titanic zarpou, em 10 de abril de 1921, do porto de Southampton em direção à cidade de Nova York com 1833 pessoas a bordo, com duas paradas onde recolheu mais 120 passageiros antes de iniciar a travessia do Atlântico.
Em 14 de abril o Titanic, um pouco antes da meia noite, atingiu um iceberg a estibordo. Às 2h e 20min, o Titanic afundou vitimando 1522 pessoas.
Embora não exista uma resposta definitiva sobre o que aconteceu com o Titanic, existem evidências de que a embarcação e seus passageiros foram expostos a riscos que acabaram por se concretizar em um grande desastre.
Antes de um navio ser colocado em operação, ele passa por um período de rigorosos testes (motores, equipamentos, estrutura e navegabilidade) que costumam se estender por semanas e, em muitos casos, por meses. O Titanic foi submetido a um período de testes de apenas meio dia.
Durante a viagem, o Titanic manteve uma velocidade de 20 nós (37,12 km/hora), mesmo durante a noite. A esta velocidade, em caso de uma parada de emergência, o navio percorreria uma distância superior a 1km até a parada total. Especula-se que a manutenção dessa velocidade, era a tentativa de estabelecer um novo recorde mundial para o percurso.
O radar só se tornou operacional 23 anos depois, assim sendo, os mecanismos de segurança na época eram muito limitados. Além das luzes de navegação as embarcações contavam com o olhar de um marinheiro no cesto da gávea. Estes marinheiros utilizavam binóculos de longo alcance em suas vigílias, porém, no dia do acidente este equipamento não foi disponibilizado aos marinheiros que estavam de plantão.
De 12 a 14 de abril, data do acidente, o Titanic recebeu, de diversas embarcações, 8 avisos da existência de icebergs, sendo o último as 21:40hrs, mesmo assim, não reduziu a velocidade.
O número de botes salva-vidas era insuficiente, eram capazes de acomodar apenas 53% das pessoas abordo.
Fator de Risco é qualquer evento que posso prejudicar, total ou parcialmente, as chances de sucesso de um projeto.
No naufrágio do Titanic, encontramos 3 fatores de risco que foram subestimados: velocidade do navio; ausência de binóculos e a quantidade de botes salva-vidas.
Se estes 3 fatores de risco tivessem sidos identificados de forma antecipada, o capitão do navio (gerente do projeto) e a tripulação (equipe do projeto), poderiam ter estabelecido ações capazes de diminuir a probabilidade de que eles viessem a assumir valores que prejudicassem o projeto (planos de contenção), assim como desenvolvido procedimentos (plano de contingência) visando minorar as consequências oriundas da concretização destes fatores de risco.
Revisando o Naufrágio do Titanic em na perspectiva da Gerência de Risco, podemos observar o conflito existente nos objetivos da direção da empresa:
Transportar os passageiros ao destino final com toda segurança;
Fazer a travessia no menor tempo possível.
O conflito é visível, já que para fazer a travessia no menor tempo possível era necessário manter a velocidade máxima, o que significou o relaxamento das normas de segurança, além disso, o capitão do Titanic desconsiderou vários comunicados recebidos alertando sobre a presença de icebergs na área, aumentando assim a probabilidade e o impacto do fator de risco “Choque com um Iceberg”.
Caso este fator de risco tivesse sido identificado de forma antecipada, o capitão do navio poderia ter tomado algumas ações de contenção:
Colocar um vigia constante com binóculos de longo alcance. Reduzir a velocidade ao avistar um bloco de gelo.
Contactar outras embarcações que estivessem navegando na região. Reduzir a velocidade ao ser informado da existência de icebergs.
Estas ações reduziriam, mas não eliminariam a possibilidade de um choque acontecer. Caso o choque acontecesse algumas ações de contingenciamento seriam implantadas:
Avisar outras embarcações da situação de perigo;
Distribuir coletes salva-vidas para os passageiros;
Embarcar os passageiros nos botes salva-vidas e baixa-los ao mar.
No início do texto falamos de eventos improváveis que aconteceram na história da humanidade, porém, se analisarmos toda a sequência de fatos acontecida nestes eventos, em inúmeros casos iremos encontrar, como no caso do Titanic, fatores de risco que foram subestimados pelos “gerentes de projeto” destes eventos. Caso estes fatores tivessem sido considerados, os “gerentes do projeto” poderiam ter colocado em prática ações de contenção, visando diminuir ou eliminar os impactos gerados por estes fatores.
É importante observar que a análise de risco se baseia mais na nossa percepção da existência dos riscos, do que na sua existência na realidade que nos cerca.
Referência:
Antonio Juarez Alencar, Eber Assis Schmitz (2006) – Análise de Risco em Gerência de Projetos
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